O Carnaval de Aracaju no século XIX (1872-1900)
Paulo Henrique Santos Araujo
Email: paulohenriquehistoria@gmail.com
Profº de história da Rede Estadual de Ensino
O Carnaval de Aracaju é quase tão antigo quanto á cidade. A primeira manifestação registrada data de 1872. Nessa época chamava-se “entrudo”, forma popular de festejar, de origem portuguesa. A palavra entrudo vem do latim “entroito”, que quer dizer introdução, referindo-se ao período que introduz a Quaresma. Segundo Luís da Câmara Cascudo, a festa consistia principalmente, em atirar água uns nos outros, algo como a festa das cabacinhas em Japaratuba. Para isso ,era utilizada quartinhas, jarras, seringas e qualquer tipo de recipiente que pudesse conter o precioso líquido. O banho d’água era complementado com o banho de “farinha” de trigo, goma e pó. O Entrudo de Aracaju é noticiado pelo jornal do Aracaju de 4 de fevereiro de 1872. Conforme o diário, a festa era prejudicial e detestável, uma manifestação de incivilidade. O Carnaval de Aracaju à época comportava quatro manifestações básicas: as mascaradas, o Zé Pereira, os clubes carnavalescos e os desfiles de carros alegóricos. Sobre as Mascaradas, o jornal do Aracaju de 22/02/1873, exorta a rapaziada a colocar as máscaras e recomenda: que cada um que faça o seu papel. Diz o jornalista: “A festança é dos patuscos”. Isto é, os que gostam de diversão. Um outro componente da festa era o Zé pereira,esta também de origem portuguesa.Uma manifestação popular acompanhada de bumbos e tambores de lata de biscoito rufando a toda força.Apareceu no Brasil em 1846, sempre no sábado anterior ao carnaval. As corridas do Zé- Pereira, consistiam na reunião de pequenos grupos de foliões que saíam às ruas pela aurora e despertavam as pessoas para cair na festa. Um convite do jornal do Aracaju incita: “Eia, pois rapaziada do grande batalhão das couzas esquisitas. Uniformes a capricho! Mímicas a capricho” (25/02/1873 p.4). Os desfiles alegóricos eram um outro componente do nosso antigo carnaval. Por volta de 1889, surgem os carros alegóricos, desfiles, batalhas de confete e serpentina. Era um carnaval de forte influência francesa e italiana, sobretudo. O jornalista Luiz Selva da Reforma de 10/03/1889, assim descreve o desfile alegórico daquele ano: “O clube Mercuriano se apresentou na área com uma pompa deslumbrante vencendo todos os outros. Com efeito, o fato de cuja eloqüência não é lícito duvidar encarregaram-se de por em evidência as previsões populares. Das três horas em diante o povo começou a percorrer as praças notando-se em cada rosto o júbilo. O doce casamento com o entusiasmo saltitante”. Um outro aspecto da festa era os clubes carnavalescos. Os dois principais eram o Mercuriano e o Cordovínico. Os foliões destes clubes participavam da festa fantasiados, participando das guerras de confetes e serpentinas pelas ruas. Estes clubes, na linguagem de hoje blocos, estavam reservados aos sócios. Geralmente pessoas dos médios e altos estratos da sociedade. Os componentes pagavam suas mensalidades e os clubes compravam no comércio local. As fantasias, os adereços, os ornamentos para os carros alegóricos viam da Europa. Era imenso o estímulo para saber qual deles faria a mais brilhantemente apresentação. Havia torcida para cada clube. O povo naquele aspecto era mero torcedor Os desfiles alegóricos destes primeiros clubes eram de acordo com os jornais da época, verdadeiras obras de arte, produzidos por cenógrafos e figurinistas. Vê-se por este breve esboço, que a Capital de Sergipe no século XIX teve um rico carnaval. Nota-se a existência de duas festas distintas: uma delas tinha feitio visivelmente popular e girava em torno do Zé Pereira. A outra era marcadamente uma festa das elites e abrigava os clubes (blocos) carnavalescos, desfiles de rua com carros alegóricos. Referências utilizadas: Jornal do Aracaju-Aracaju-04/02/1872 Jornal do Aracaju-Aracaju-22/02/1873 Jornal do Aracaju- Aracaju-25/02/1873 A Reforma-10/03/1889 Bibliografia Citada: CASCUDO Luis da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. Edições de Ouro, 1969; SEBE, José Carlos. Carnaval, carnavais.São Paulo. Ática, 1986.
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